Carta aberta à comunidade geográfica
26/04/2016 17:23
Nós geógrafas(os) reunidas(os) na 126a Reunião de Gestão Coletiva em São Luís-MA, entre os dias 21 e 24 de abril de 2016, posicionamo-nos a respeito da atual situação política do país nesse momento histórico. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), reafirmando sua perspectiva de compromisso social e político com o desenvolvimento democrático do território brasileiro, faz uma análise crítica e radical da situação atual e compreende que a construção do Brasil apresenta-se nesse momento mais complexa do que o reducionismo espetacularizado pela grande mídia
Mantemo-nos em posição clara de não alinhamento com posturas conservadoras e reacionárias ao propor a análise do Estado e suas políticas. De fato, pactos políticos que emergiram no início dos anos 2000 estão rompidos, são acirradas as lutas de classe e grupos animam-se em propor retrocessos sociais, políticos e econômicos duramente conquistados.
Analisando o quadro atual, para além da discussão do “impedimento”, e considerando os aspectos socioespaciais envolvidos nas disputas pelo poder, não só no Brasil, mas em boa parte da América Latina, temos clareza das conquistas e retrocessos que marcam o território brasileiro e que implicam em temáticas traduzidas por lutas sociais candentes: dos conflitos pela demarcação de terras indígenas e quilombolas e o abandono da reforma agrária em favor dos interesses do agronegócio, da indústria e da mineração; dos movimentos sociais urbanos frente à ampliação da especulação imobiliária e do genocídio da juventude negra e indígena das periferias; contra a financeirização geral da economia, em especial o financiamento da educação superior privada e o violento processo de censura aos professores a partir de movimentos de desideologização da educação.
Se por um lado o texto Constitucional é afirmado para fazer valer os direitos das elites, por outro lado o mesmo texto não é respeitado quando se trata do povo. Ataques e descumprimentos à Constituição são históricos e recorrentes, revelando a seletividade do sistema democrático. Viveríamos em uma sociedade construída sob bases de uma “democracia racionada”, a qual não é nem totalmente democrática, tampouco é totalmente uma ditadura?
Vemos no XVIII Encontro Nacional dos Geógrafos, “A construção do Brasil: geografia, ação política e democracia”, uma oportunidade apropriada para aprofundamento dessa análise. A AGB, como não poderia ser de outra forma, se soma aos que, nas ruas, nas salas de aula, no seu cotidiano buscam contribuir para a construção de uma sociedade justa e igualitária que rompa com a democracia racionada.
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
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